Infelizmente, há mais de um século o planeta Terra vem enfrentando mudanças climáticas drásticas decorrentes, majoritariamente, das ações da própria raça humana.
No entanto, os cientistas são incansáveis na tarefa de alertar para o perigo dessas mudanças e na Itália os reflexos do aquecimento global não são diferentes.
Muito se fala sobre aquecimento global. É um termo bastante conhecido. Mas afinal, o que significa esse termo?
De uma maneira simples, é utilizado para referenciar o aumento da temperatura média da camada de ar da atmosfera e dos oceanos, que é causado principalmente pela emissão desenfreada de gás carbônico (dióxido de carbono) pelas ações humanas, sobretudo, as que utilizam carvão, gás natural e petróleo.
Porém, importante esclarecer que embora o termo mencione a palavra “aquecimento”, os reflexos das alterações climáticas provenientes desse aumento na emissão de CO2, podem gerar severas ondas de frio ou calor, ou seja, podem intensificar ondas de massa de ar quente ou de massa de ar polar.
A exemplo disso, em julho de 2021 tivemos uma forte onda de massa de ar polar no sul do Brasil, o que ocasionou temperaturas negativas e a ocorrência de neve em diversas cidades do Rio Grande do Sul até o Paraná.
De outro lado, o Canadá no mesmo período estava experimentando as mais altas temperaturas já registradas no país.
Essas fortes ondas de calor sem chuvas são causadas por um conjunto de fatores, como explicam os cientistas.
Além de encontrarmos explicação no aquecimento global, ou seja, no próprio aumento da temperatura do nosso planeta, condição que cria ondas de calor cada vez mais fortes, há também o fato de que ondas atmosféricas de grande escala deslocam correntes de ar que dividem a Europa em duas zonas (Europa Ocidental e Europa Oriental) e causam uma área de baixa pressão atmosférica na primeira, a parte Ocidental, e de alta pressão na segunda, a Europa Oriental.
Mais do que isso, em meio a essa divisão há a forte onda de calor que vem do Saara e é deslocada para o norte e soma-se ao aumento da concentração de gases poluentes, como o gás carbônico. Um conjunto de fatores que alteram fortemente as condições climáticas, proporcionando correntes de ar secas e quentes.
Com o aumento da temperatura atmosférica, há o aumento de derretimento de geleiras e calotas polares, bem como maior evaporação de água para a atmosfera. O calor evapora as águas, seja doce ou salgadas, e ela é transformada em chuva.
Portanto, quanto mais calor na atmosfera, maior o risco de inundações. É o caso do leste europeu, que recebe diretamente a massa de ar quente do Saara e que vem sofrendo com as fortes chuvas.
Ainda, o agronegócio é outro fator que também influencia nas questões climáticas. Neste setor, é muito comum a prática de desmatamento para a criação de pastos, que é a vegetação que serve como alimento para o gado e, ao mesmo tempo, é o terreno onde os animais são criados.
Com o desmatamento desenfreado, a quantidade de emissão de gases poluentes aumenta consideravelmente, pois além de haver um número cada vez menor de árvores, há também maior emissão de gases pelos animais, o que acaba contribuindo para o aquecimento global.
A título de curiosidade, apenas para ilustrar o que foi dito acima, importante mencionar que o Brasil atualmente é um dos maiores criadores de rebanho bovino e esses animais são responsáveis pela emissão de porcentagens significativas de gás metano (CH4) na atmosfera.
O metano é considerado 25x mais poluente que o gás carbônico (CO2), e estabelecida essa relação, considerando que em 2018 o Brasil possuía um rebanho de aproximadamente 220 milhões de cabeças de gado, pode-se dizer que a criação de gado e a emissão de metano supera, em termos de contribuição para o aquecimento da atmosfera, a frota de automóveis brasileira com a emissão de CO2.
E o que podemos fazer para colaborar enquanto indivíduos? Algumas ações simples, mas de extrema importância, são fundamentais para reduzir a emissão de CO2, tais como:
- dar preferência a meios de transporte coletivos ou bicicletas;
- investir em agricultura de pequeno porte ou de subsistência;
- ser adepto do plantio de árvores;
- apoiar grandes e pequenas marcas que possuam políticas nesse sentido, entre outras.
Na Europa, os reflexos do aquecimento global são muito visíveis. O ano de 2020 foi o mais quente já registrado na história do continente, e nos últimos tempos, a cada ano este recorde é quebrado, o que significa que 2021 ainda pode superar essa marca.
Consequências do aumento da temperatura
Como consequência das altas temperaturas e da seca extrema, diversos incêndios florestais vêm sendo registrados, além de tempestades devastadoras em países como Turquia, Alemanha, Holanda e Bélgica.
A Itália é um desses lugares que sofreram com os incêndios recentes e com a forte onda de calor. A Sicília, a Sardenha e a Calábria são alguns dos lugares que mais padecem com incêndios e queimadas no verão de 2021, os quais causaram muita destruição e necessidade de evacuação de determinados locais.
Notícias recentes chamam de calor “Lúcifer” os 48,8°C registrados na Sicília, a maior temperatura da história da Europa. Além disso, 15 cidades italianas de diferentes regiões entraram em alerta vermelho devido ao calor excessivo e entre elas estão Roma e Florença.
Quando temperaturas tão altas e a baixa umidade do ar perduram por muito tempo, significa que a saúde de toda a população está em risco.
A média do verão italiano, já considerando as épocas em que ocorrem os picos de temperatura, era de 35°C e, como mencionado, nesse ano foram registradas temperaturas acima dos 45ºC, mais de dez graus que a média de temperatura para o mesmo período.
O grave derretimento das geleiras
O aumento de temperatura proporcionado pelo aquecimento global, também ocasiona o derretimento e o risco de desmoronamento de geleiras no norte da Itália.
Nas últimas décadas, os Alpes vêm perdendo volume, e uma das medidas adotadas para controlar o derretimento foi cobrir algumas montanhas com uma gigantesca manta branca, feita de material especial e que reflete a luz do Sol.
Isso porque tem-se cada vez menos neve na região e a situação é muito preocupante e com essa redução da quantidade de neve acumulada sobre as montanhas, outra decisão tomada foi a de recalcular as fronteiras entre Itália e Suíça.
Você imagina o porquê? Este segundo país é muito famoso pelos Alpes suíços, cadeia de montanhas que ficam cobertas por neve praticamente o ano todo e que, em alguns pontos, fazem fronteira com a Itália.
Enquanto as camadas de neve ainda estavam “intactas”, ou sem grandes comprometimentos, a divisão entre a parte italiana e a suíça era mais precisa, mas com a diminuição da neve e, consequentemente, do volume das montanhas de forma considerável, será necessário rever quais os “novos” limites entre os dos países.
Inclusive essa decisão foi o pontapé inicial para o entendimento de que a divisão das fronteiras deverá ser sempre flexível daqui pra frente, pois o aumento de temperatura incessante causará mudanças constantemente.
Consequências gerais
Como é possível perceber, o aquecimento global impacta o planeta como um todo.
Na Itália os incêndios florestais causaram graves danos ambientais à fauna e à flora, com a morte de milhões de animais como ouriços, veados, esquilos, tartarugas, lagartos, entre outras espécies de mamíferos, pássaros e répteis, que cercados pelo fogo e intoxicados pela fumaça, não conseguem fugir para locais seguros.
Além disso, há o prejuízo econômico, pois muitas pessoas perdem suas casas e o comércio local acaba sendo afetado com a diminuição do turismo nessas áreas.
De outro lado, o aumento de temperatura, que fez a Sicília atingir quase 50ºC recentemente, causa também problemas de saúde, proporcionando maior risco de doenças cardiovasculares e respiratórias.
As doenças respiratórias são impulsionadas pela baixa umidade do ar e também pelo aumento da presença de CO2 no ar em razão dos incêndios florestais.
A elevação da temperatura do planeta e da concentração de gases tóxicos, como o gás carbônico, aumentam também a quantidade de diversas partículas encontradas no ar, como mofo, pólen, ozônio e substâncias advindas de processos químicos, fato que pode aumentar o risco de desenvolvimento de problemas respiratórios, desde alergias até doenças mais graves, como asma e câncer no pulmão.
A qualidade do ar ruim e o calor intenso podem alterar a pressão arterial e a frequência cardíaca, além de aumentar o risco de desidratação e afetar o sistema nervoso também, deixando a população mais estressada. Tudo isso eleva o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC (acidente vascular cerebral).
As fortes chuvas, que também fazem parte das consequências do aquecimento global, contribuem para a reprodução mais frequente de insetos transmissores de doenças que podem afetar a saúde do coração, como a doença de Chagas, transmitida pelo “barbeiro” (Triatoma infestans).
Medidas adotadas para lidar com as mudanças climáticas
Em 2015, representantes do G20, o grupo que reúne os países com maior economia do mundo, acordaram em não deixar a média de temperatura mundial subir mais do que 2ºC, e em reduzir o uso de carvão até 2030 (Acordo de Paris).
Por mais que a maior parte do grupo tenha concordado com as medidas, alguns países ainda resistem, pois têm no carvão sua principal fonte de combustível.
Em fevereiro de 2021, a Itália oficializou o Ministério da Transição Ecológica, um segmento do governo que implementará uma produtividade mais sustentável, a nível nacional. Nas palavras de Luigi Di Maio, ministro das Relações Exteriores, o novo Ministério “construirá a Itália de 2030”.
Em outubro de 2021, Roma será a sede da 16° reunião do G20.
Em ações cotidianas, o país foi o primeiro do mundo a adotar a disciplina obrigatória “Mudanças climáticas” nas escolas. As transformações começam na base, portanto as crianças devem começar a refletir e a causar melhorias desde cedo.
Além disso, outra medida adotada é a de que as empresas mais poluentes do país são obrigadas a arrecadar fundos para a educação.
O mundo já aqueceu cerca de 1,2°C desde o início da era industrial, e as temperaturas continuarão subindo, a menos que os governos ao redor do mundo consigam fazer cortes drásticos nas emissões.
Todavia, é importante frisar que não cabe só ao governo estabelecer medidas para reduzir os impactos do aquecimento global. Todos precisamos fazer a nossa parte e cuidar do planeta que nos acolhe, mesmo que realizando pequenas ações.